quinta-feira, 8 de março de 2012

A dor da despedida

A história de que a proximidade da morte de alguém querido nos faz parar e pensar em tudo que fizemos e temos feito é a mais pura verdade. E, infelizmente, chegou a minha hora de experimentar este gosto amargo. Há uma semana minha cachorra está muito mal, com vários problemas de saúde que fomos descobrindo aos poucos ao longo desses dias. Desde então, ela está quase que paralisada, não olha quando a chamamos, não levanta nem para fazer xixi e está com o olhar longe longe. Ela está muito fraca e, na verdade, já perdi as esperanças de que ela consiga resistir.
Estou contando tudo isso porque a proximidade da morte dela me fez pensar em como a vida é frágil. De repente, de um dia para o outro, ela já não estava mais ali na porta pedindo atenção, comida ou, simplesmente, olhando como nos movimentávamos na cozinha. De repente eu vou lavar o quintal e ela não está mais lá me atrapalhando, pisando onde já estava limpo. De repente, a casa ficou silenciosa, porque ela já não late mais.
Nunca fui muito apegada a ela, mas tenho sofrido muito em vê-la neste estado. Dói demais ver aqueles olhinhos tão distantes, como se fossem se fechar a qualquer instante para poder partir em paz. Estou romanceando demais a sua morte? Acho que não, pois a morte, quando vem, traz sempre tristeza, não importa quem ela leva.
A morte dói porque traz com ela sempre o vazio. Tudo aquilo que me irritava, já não existe mais ou, ao menos, está em suspenso. Tudo aquilo que fazia parte do meu cotidiano como lavar o xixi, pegar coco, dar água, não fazer barulho de noite na cozinha para que ela não acordasse e desandasse a latir já não existe mais. Eu olho pro cantinho que ela ficava e ela já não está mais lá. Ficou justamente o vazio. E aí meu caro, só mesmo o tempo para acomodá-lo em nosso cotidiano.
Todo esse sofrimento me fez pensar como é difícil ter que decidir sobre a vida de alguém, mesmo que este alguém seja apenas uma cachorra. Por pior que ela esteja e por mais remotas que sejam as chances de que ela se recupere, nos agarramos a essa vontade de preservar a vida, mesmo que isto custe a nós e a ela todo este sofrimento. Mas até que ponto podemos aguentar?
Essa triste situação me parece uma prévia de muitos outros encontros com a morte que ainda virão, já que esta é intrínseca à vida, face de uma mesma moeda, e dela não podemos escapar em algum momento. Me fez pensar o quanto devo refletir sobre minhas atitudes com os outros e até comigo mesmo para que todo este remorso, culpa e angústia não se abatam sobre mim diante de outra situação como esta. Para que a partida e a despedida possam se dar em paz.

6 comentários:

  1. comecei lendo e esperando um rumo... mas chegou a outro destino.
    visões diferentes sobre um mesmo tema.
    mas, no final, acho que a constatação foi a mesma!
    bem, no caso, são 2 temas abordados: o lidar com a morte e o viver a vida.
    o viver a vida é e será SEMPRE pra mim uma arte, um deslumbre, ao mesmo tempo que uma incessável luta. os altos e baixos do caminho que o digam...
    o lidar com a morte. talvez por ter começado cedo e envolvendo pessoas bem próximas, ainda mais com casos de "perda de esperanças", eu a vejo bem como um encontro com a paz. prova disso é a (muito comum) feição que a pessoa que se foi adquire depois de perder o peso daquilo que a fazia mal. e então vem a paz, pura e plena.
    não sei. mas é um ponto de vista que, eu acho, ajuda a lidar com esse momento.
    quanto a sua cachorra, desejo a ela apenas o melhor! e a vc tbm! força no coração!
    :)

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  2. Ah! e preciso dizer que adorei este papel de parede! ;)

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  3. Parabéns pelo texto, muito bom, continue escrevendo e refletindo sobre a vida, que apesar de situações desagradáveis sempre é o nosso presente, uma verdadeira dádiva, onde temos diversas oportunidades para crescimento pessoal...adorei, vou divulgar...bjs e fique bem, se precisar estou a disposição...Letícia

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  4. Mari, realmente, parece que comecei em um lugar e fui parar em outro totalmente diferente. Mas estava difícil de escrever, eram muitas coisas na cabeça, lágrimas rolando, enfim... Eu concordo, acho que a morte traz sempre a paz para aquele que vai, mas é tão difícil para nós que ficamos... Eu sei que ela está bem melhor agora que se foi, pois estava sofrendo muito, mas está difícil ficar sem ela. Engraçado, eu nunca tinha parado para pensar nisso que você disse. De fato, quando a pessoa morre e ela tem uma feição de serenidade. Mas acho que tudo isso tem a ver com aquilo que disse sobre que ângulo das coisas costumo observar. Tenho pensado muito no vazio e nesses dias de angústia em que ela estava entre a vida e a morte, enquanto deveria pensar apenas que ela está melhor agora e nos momentos em que ela nos fez e foi feliz.
    Sobre o papel de parede, eu ainda estou tentando melhorar o visual do blog. Mas é legal né? Gostei muito também.
    Obrigada pela força Mari!

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  5. Muito obrigada Letícia! Devo dizer que, apesar da morte da minha cachorra, já estou bem melhor, graças às suas milagrosas sementinhas e à conversa de quarta. Obrigada de coração!

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  6. Que bom que está melhor, fico muito feliz de poder ter auxiliado de alguma maneira...bjs

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