sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Não sei se é triste ou não mas é verdade...

... o álcool me inspira. E muito!
Acho que isso é fruto de uma educação muito certinha. "Não faça isso, não diga aquilo..." Em suma: "comporte-se"! E. acho que, em dias normais, acabo me portando assim  mesmo. Não é à toa que as pessoas pensam que eu sou super certinha. No fundo acho que sou mesmo. Na verdade, não sei... Eu acho que na real sou honesta e ponto e as pessoas confundem as coisas. Acredito eu que defendo ideias e comportamentos muito mais progressistas do que aqueles que não se julgam "certinhos". Mas por que raios estou falando disso? Minha intenção na verdade era falar de outra coisa, mas como esta é uma tecla que tem batido insistentemente nos últimos dias acabei falando disso.
Enfim... o lance é que deus Baco me inspira e como este é um blog que em princípio seria movido à inspiração, e esta tem faltado ultimamente, hoje, às quase cinco da matina e com umas e outras na cuca, resolvi escrever.
Desde segunda me inquietei com uma coisa e hoje tive a prova disso. Na segunda, fui pagar uma conta (por sinal atrasada) no banco e la estava passando uma entrevista do filósofo Alain de Botton. Eu vi bem pouco, mas já fiquei fascinada. Ele falava da dificuldade que temos hoje em dia de se ligar a uma religião. Isso me chamou bastante a atenção, pois há algum tempo venho tentando me encontrar e não consigo. Até em cerimônia budista já fui e não me senti bem... Um lance que me incomoda bastante na religião é a questão da hierarquia, o que acaba sempre me levando a ver a religião como um mecanismo de controle. Isso me assusta e me faz pensar se em algum momento ou em algum lugar vou conseguir aquietar meu espírito inquieto.
Mas o filósofo me deu esperança e hoje tive prova disso. Ele disse que a arte é um caminho e eu sempre pensei nisso. A arte é o lugar da liberdade, ao contrário da religião, onde a gente pode se expressar como quer ou se identificar com as mais variadas formas de manifestação.
Por isso para mim ver um filme no cinema é um ritual: gosto de chegar cedo, pegar o melhor lugar possível e detesto as pessoas que não respeitam este momento, seja atendendo o celular ou conversando com o amigo do lado. 
Hoje, ao ver uma banda cover dos Beatles me emocionei profundamente ao ouvir a música "Nowhere man". à capela, no início e me lembrei do que dizia o filósofo no programa que vi naquela segunda-feira à tarde. Aquele foi um momento de catarse para mim, de uma paz profunda. Um momento de encontro comigo mesma.
Eu nem sei se alguém ainda lê o meu blog, já que faz meses que não publico nada. Mas queria compartilhar isso com vocês. Espero que em 2012 eu esteja mais inspirada.  
*Desculpe a ausência de vírgulas, mas quis deixar o texto mais solto...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E se ao invés do ex-operário fosse o ex-sociólogo?

Assim que vi alguns comentários que começaram a circular na internet (principalmente pelo Facebook) em relação ao câncer de Lula recentemente noticiado pela imprensa, me veio à mente a seguinte pergunta: como seria a reação das pessoas se ao invés do ex-presidente operário fosse o ex-presidente sociólogo a vítima do câncer?
Eu não cheguei a ver diretamente manifestações explícitas de felicidade ou ironia em relação ao estado de saúde de Lula, mas apenas comentários sobre tais reações através de alguns blogs e colunas. Entretanto, vi várias mensagens carregadas de sarcasmo e ironia e até mesmo campanhas pedindo que Lula se trate no SUS, sob o argumento de que se é isso que ele ofereceu ao povo é isso o que ele também deve usufruir, calcado numa espécie de revanchismo. Mais do que isso, baseia-se na ideia de que se Lula se diz como alguém do povo então deve agir como tal. E, se o povo só tem como opção de saúde o atendimento do SUS, Lula, sendo uma pessoa do povo, deveria também se tratar pelo serviço público de saúde.
Foi aí que me veio a questão acima mencionada. E se fosse o ex-presidente Fernando Henrique que estivesse com câncer? Ou mesmo qualquer outro político de um alto cargo saído das grandes universidades ou diplomados.  Será que tantas pessoas levantariam a sua voz pedindo que esta pessoa se tratasse pelo SUS e não em um hospital particular?
Com certeza não. Não me lembro à época do câncer do ex-governador Mário Covas de qualquer comentário em relação a isso. Toda esta reação inflamada contra o ex-presidente Lula mostra mais uma vez o quanto alguns setores sociais não engoliram a história de um operário chegar ao posto de presidente. Mais do que isso, evidencia a ideia equivocada que o brasileiro tem de que tudo que é "público" é sinônimo de "feito para pobre". Sendo Lula alguém que surgiu entre os mais pobres, ele deveria como tal ir se tratar no SUS. Que outro lugar melhor para o pobre ir tratar da saúde?
Acho que é mais do que justo que Lula se trate em um grande hospital se tem recursos para isso. E, mesmo que não tivesse, tenho absoluta certeza de que não faltariam pessoas dispostas a pagarem os melhores tratamentos possíveis a ele, visto o grande respeito e admiração que tem a comunidade internacional pelo ex-presidente. Admiração esta que nos remonta a um outro equívoco do brasileiro de nunca valorizar aquilo que o país tem de bom. Precisa sempre alguém de fora apontar uma qualidade que temos. Ainda assim, no caso de Lula, o rancor por um operário conquistar o que conquistou é tanto que, nem mesmo com grandes personalidades internacionais demonstrando toda a sua admiração por Lula, alguns brasileiros conseguem enxergar, independente de todos os erros que Lula possa ter cometido em sua carreira política, a grandeza de sua trajetória política e o quão simbólica foi a chegada de um ex-operário ao poder. 
Torço muito para que o ex-presidente vença este câncer com os melhores tratamentos que possa usufruir. Torço também para que ao invés das pessoas fazerem campanhas para que Lula se trate pelo SUS, perpetuando assim esse imaginário de que tudo o que é "público" é necessariamente de má qualidade, que pensem em novas formas de pressionar o governo a melhorar o serviço de saúde pública, pois assim como obrigar os políticos a matricularem seus filhos na escola pública não resolve os problemas da educação, Lula se tratar pelo SUS também não resolve os problemas da saúde pública.
Esta é uma solução muito simplista e revanchista. E se seguíssemos essa lógica, todos nós deveríamos deixar as soluções individuais em prol das soluções coletivas trocando, por exemplo, nossos convênios particulares pelo SUS, as escolas particulares pelas públicas, o carro pelo "busão" e assim por diante. Não acho que ninguém deva fazer isso. Este é só um modo de mostrar que esse tipo de "solução" que se coloca é simplista demais e não resolve os problemas históricos que temos em relação aos serviços públicos de modo geral. Serve apenas para demonstrar o imenso rancor de uma parte da sociedade que não admite até hoje um não-diplomado governando uma nação. 
É triste ver como as pessoas confundem as coisas. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Olhando no espelho através de "Medianeras"

Esta semana fui novamente ao cinema, mas desta vez para assistir ao filme argentino “Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual”. Filme singelo, que trata de forma muito delicada as relações humanas nas grandes cidades, na era em que tudo é virtual. “Medianeras” mostra dois jovens que enfrentam problemas semelhantes: Mariana e Martin são dois jovens solitários, cheios de fobias (ela de elevador, ele de multidão) que moram em uma “caixa de sapato”, como dizem. Os dois sempre se cruzam na rua, pois moram em prédios vizinhos, mas nunca se encontram. Ela é arquiteta, mas trabalha com vitrines. Vive rodeada por “pessoas” de plástico, seus manequins e tem como grande mistério da sua vida encontrar o Wally na cidade, uma das páginas de seu livro. Ele trabalha com web sites e tem como fiel companheiro seu computador. Desde que sentou diante dele não saiu mais, faz tudo pela internet: lê revistas, compra coisas e “conhece” pessoas. Não digo mais sobre a história para não estragar a surpresa daqueles que ainda não viram o filme. Mas o que me motivou a falar dele foi o fato de que ao estar diante da película me sentia, na verdade, diante de um espelho. Martin e Mariana são verdadeiros reflexos de nós mesmos. Somos jovens solitários, cheios de medos e angústias. Medo de se mostrar, se expor e se machucar. Martin está diante de um mundo de possibilidades, mas não tem nenhuma. Pode conhecer milhares de pessoas pela internet e, no entanto, está sozinho. É estranho porque parece que temos tanto e na verdade temos muito pouco. O excesso de informação, conhecimento, produtos e pessoas é na verdade escassez. Escassez de momentos felizes, escassez de tempo para olharmos para nós mesmos, escassez de relações verdadeiramente humanas. Como é possível que, em meio a uma quantidade tão grande de pessoas que mora e circula em Buenos Aires (que poderia ser qualquer outra grande cidade), alguém seja solitário? O medo talvez seja uma reposta. Diante do medo, Mariana e Martin foram se enclausurando em suas caixas de sapato e em si mesmos, como a Branca de Neve presa em uma caixa de vidro (chaveiro de Mariana) ou o boneco de Martin encerrado em uma embalagem de plástico. Porém chega o dia em que decidem abrir uma janela para deixar a luz entrar e junto com ela também a vida. A redoma de vidro é quebrada e só a partir disso é que os encontros se tornam possíveis. “Medianeras” é um filme simples tratando de questões complexas, como o medo, a solidão e as relações humanas em meio à multidão. Nos emociona e nos faz rir e refletir sobre nós mesmos.



A inspiração do nome

Não poderia deixar de fazer referência aqui à música que inspirou o nome do blog. Para aqueles que não conhecem "a inspiração vem de onde?" é trecho de uma música interpretada por Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede, chamada "Transpiração". Segue a letra da música e um vídeo.

http://www.youtube.com/watch?v=D5zzQry1fYA

Transpiração(Itamar Assumpção e Alzira Espíndola)
A inspiração vem de onde?
Pergunta para mim alguém
Repondo talvez de longe
De avião barco ou bonde?
Vem com meu bem de Belém
Vem com você neste trem
Das entrelinhas de um livro
Da morte de um ser vivo
Das veias de um coração
Vem de um gesto preciso
Vem de um amor vem do riso
Vem por alguma razão
Vem pelo sim pelo não
Vem pelo mar gaivota
Vem pelos bichos da mata
Vem lá do céu vem do chão
Vem da medida exata
Vêm dentro da tua carta
Vem do Azerbadjão
Vem pela transpiração
A inspiração vem de onde?
De onde?
A inspiração vem de onde?
De onde?
Vem da tristeza, alegria.
Do canto da cotovia
Vem do luar do sertão
Vem de uma noite fria
Vem olha só quem diria
Vem pelo raio e trovão
No beijo desta paixão
A inspiração vem de onde?
De onde?
A inspiração vem de onde? 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A moça do futuro


E foi assim, vendo “O Homem do Futuro” que decidi ser feliz. Finalmente percebi aquilo que todos tentam colocar na minha cabeça há anos: não podemos mudar o passado, mas o futuro sim. “A gente não pode viver com medo”, uma das frases do filme cai hoje como uma luva pra mim. Medo tem sido o guia da minha vida há dois anos. Medo de se expor, medo de te acharem piegas, medo de sofrer, medo medo medo. Medo é uma palavra que quero banir do meu dicionário. Você pode se perguntar que raios tem a ver o filme com tudo isso. Pois eu explico.
A história ocorre no vai e vem entre passado, presente e futuro, e o passado é uma festa universitária tocando Ultraje e Legião. O passado do filme me fez lembrar o meu. Me fez lembrar os anos em que estudei arquitetura em São Carlos. Estes foram os anos mais felizes da minha vida. Eu sei que pra todo mundo os anos de faculdade são um momento mágico, mas, sem querer ser arrogante, para mim estes anos foram mais do que especiais. Foram uma espécie de libertação. Quem me conheceu aquela época e me encontra hoje sabe que não se trata mais da mesma pessoa. Quando lembro as coisas que eu fazia, como falar no microfone, por exemplo, bradar contra a amada tradição do miss bixete, eu fico pensando... será que era eu mesmo?
Sempre fui tímida e insegura, mas naquela época grandes coisas aconteceram na minha vida porque eu acreditava me mim. Eu acreditava que era capaz de dizer coisas relevantes, de contribuir com o trabalho do centro acadêmico, de participar de transformações, de atrair pessoas queridas e, mais do que isso, eu me sentia muuuuito querida, ou melhor, eu me sentia amada. Poderia citar os nomes aqui de todas as pessoas que estiveram ao meu lado nestes anos libertários, mas eu me estenderia demais, pois muitos foram os amigos que lá tive.
Infelizmente, não sei bem como explicar (se é que isso tem explicação), minha vida foi caminhando de um jeito que me fez esquecer aquela moça de anos atrás. O desejo de mudança e a necessidade de respirar sonhos foi dando lugar, aos poucos, ao medo de se mostrar e à automática mecanicidade da vida. E todos os dias o passado pesa nos meus ombros. Todos os dias o arrependimento e a raiva de ter feito as escolhas erradas vêm me cobrar. As pessoas sempre me lembram que o tempo não faz diferença, que não importa se eu vou me formar com 25 anos ou com 30, mas o fato é que na prática não é bem assim. É sofrido, principalmente quando mesmo depois de passar por tanta coisa, de trilhar um caminho ou outro você continua perdida. João (o moço do filme) precisou passar por um momento doloroso para entender que não podia mexer no passado, mas que poderia guiar seu futuro. João foi mais alguém que me lembrou que eu não posso voltar atrás e que eu devo olhar para frente. O homem do futuro acordou a moça do passado que agora deve aprender lentamente a caminhar novamente.

A inspiração vem de onde?


Hoje inauguro este blog depois de pelo menos cinco anos de planejamento e desejo de fazê-lo. Sempre dizia a mim mesma: eu vou fazer um blog, eu vou escrever, eu vou, eu vou, eu vou, sempre no futuro. Mas hoje, há uns 30 minutos atrás eu decidi criar esse blog e o criei assim de repente, pois se não o fizesse, talvez passasse mais cinco anos projetando este dia. Mas a vida não é só feita de projetos, é também feita de acasos ou de casos simplesmente, ou ainda de acontecimentos.
Hoje, voltei do cinema inebriada, como na maioria das vezes, pois o cinema é a coisa que mais amo no mundo! Eu fico em um estado de espírito difícil de explicar. E acho que eu poderia dizer que é daí que vem minha inspiração. A minha cabeça começa a fervilhar, criando mil frases possíveis de se dizer, mas aí eu não registro e elas voam, fogem de mim e eu esqueço. Mas hoje decidi segurá-las por alguns instantes para que possam permanecer eternamente, ou enquanto durar esta folha de papel.
Os dois textos de hoje são frutos da inspiração. Peguei o caderno e a caneta apenas para anotar algumas idéias e desatei a escrever. Já escrevi cinco páginas de um só repente e parto para o fim da sexta. Não farei revisão, pois quero que eles sejam livres retratos de um instante.
Saí da arquitetura porque queria escrever. E escrever foi tudo o que fiz nestes cinco anos. Textos muito bem feitos, formatados, argumentativamente claros, excessivamente organizados e incrivelmente diferentes do que de fato gostaria de escrever.
É por isso que neste blog os textos parecerão imperfeitos, porque é assim que eles têm que ser. Aqui vai ser o espaço da liberdade das minhas letras que ficaram presas por tanto tempo, pobrezinhas.
Por isso não prometo postagens diárias, simultâneas ou dinâmicas como pede a era digital. Apenas textos brotados de meu pensar-sentido ou de meu sentir-pensado, fugitivos desesperados da lógica e da perfeição.